Padre Gianfranco Graziola
Como Pastoral Social, a Pastoral Carcerária nasceu em 1972, nas pegadas do Concílio Vaticano II e particularmente na sua contextualização latino-americana, que foi a Conferência de Medellín de 1968 e de Puebla de 1979. A primeira trabalhou particularmente o diálogo da Igreja, com as situações concretas da realidade latino – americana [Justiça e Paz, Direitos Humanos]. A segunda fez uma opção evangélica, ao colocar os pobres como centro e opção preferencial de sua ação evangelizadora [Opção preferencial pelos pobres].
Com a eleição em 13 de março de 2013 de George Bergoglio como bispo de Roma, assumindo o nome e o espírito de Francisco, deu-se mais uma guinada na caminhada da Igreja, retomando e resumindo nos três “T” – TERRA, TETO, TRABALHO, o caminho liberador da fé valorizando e redescobrindo a Evangeli Nuntiandi, onde a evangelização deve tocar e se misturar com as realidades enlameadas, feridas e descartadas de nosso tempo.
A partir deste olhar, o convite a percorrer o caminho da “SINODALIDADE”, assumida como atitude de vida e pastoral por nós agentes, juntamente com os privados e privadas de liberdade, suas famílias, sobreviventes do cárcere e comunidades cristãs. Consequentemente, somos desafiados/as a vivenciar uma nova maneira de ser Igreja e pastoral, fazendo a experiência da comunhão, participação e missão. Por isso somos convidados a ter algumas atitudes fundamentais:
- Fazer memória de como o Espírito orientou o caminho da Igreja.
Como podemos valorizar a história e a caminhada da Pastoral Carcerária até nossos dias? E a partir dela quais novos passos dar rumo a “um mundo sem prisões?”.
- Viver um processo participativo e inclusivo, que ofereça a cada um/a particularmente àqueles/as que por vários motivos se encontram à margem, dando a possibilidade de se expressar para que se sintam Povo de Deus.
Como envolver mais todos/as para que o projeto pastoral de um “Mundo sem cárceres” seja realmente participado e vivenciado por toda a Pastoral Carcerária e seus membros em todos os rincões desse nosso Brasil?
- Reconhecer e apreciar a riqueza e a variedade dos dons e dos carismas que o Espírito concede em liberdade, para o bem da comunidade e em benefício de toda a família humana.
Como valorizamos e damos espaço aos dons de cada um/a na ação do dia a dia da Pastoral Carcerária. Que espaço damos aos privados/as de liberdade, suas famílias e sobreviventes do cárcere em nossa ação pastoral? Qual seu protagonismo concreto no coração de nossa ação evangelizadora para que se sintam cada vez mais parte dela e não apenas destinatários?
- Experimentar formas participativas de exercer a responsabilidade no anúncio do Evangelho e no compromisso para construir um mundo mais belo e mais habitável.
Uma forma participativa para concretizar o projeto de “Um mundo sem cárceres” é o trabalho realizado tendo como base concreta a Agenda Nacional pelo Desencarceramento. Qual tem sido o meu esforço de conhecimento do seu conteúdo para que a minha ação pastoral seja realmente sociotransformadora, como pede a doutrina social da Igreja e o próprio projeto de vida de Jesus?
- Examinar como são vividos na Igreja a responsabilidade e o poder, e as estruturas mediante as quais são geridos, destacando e procurando converter preconceitos e práticas distorcidas que não estão enraizadas no Evangelho.
Papa Francisco, no seu discurso à Cúria Romana em 2014, elencou 15 doenças que comprometem a saúde da liderança: pensar que somos imortais; trabalho em excesso; petrificação; planejamento até o limite, perda de espontaneidade e criatividade; falta de coordenação; “Alzheimer” da liderança; rivalidade; “esquizofrenia existencial”; fofoca; idolatria dos superiores; indiferença; excesso de severidade; acumulação compulsiva; círculos fechados; extravagancia e exibicionismo.
Será que estas doenças estão presentes em nossa pastoral e sua ação? E como podemos tratar estas doenças para dar nova vitalidade a ação da Pastoral Carcerária? Como promover novas lideranças e trabalhar a alternância no serviço de coordenação seja ela diocesana, regional, estadual e nacional?
- Credenciar a comunidade cristã como sujeito credível e parceiro fiável em percursos de diálogo social, cura, reconciliação, inclusão e participação, reconstrução da democracia, promoção da fraternidade e da amizade social;
Como podemos ajudar a comunidade cristã para que ela possa assumir como compromisso da própria comunidade paroquial, diocesana a Pastoral Carcerária como uma das prioridades de seu ser “Igreja em saída”? Quais passos concretos podemos sugerir no âmbito do processo de sinodalidade?
- Regenerar as relações entre os membros das comunidades cristãs, assim como entre as comunidades e os demais grupos sociais, por exemplo, comunidades de crentes de outras confissões e religiões, organizações da sociedade civil, movimentos populares etc.
Como agentes de pastoral, como podemos ajudar as comunidades cristãs a retomar o diálogo com as demais realidades da sociedade para que vençam preconceitos, rótulos, superem medos e realmente se abram aos desafios de, em espírito de sinodalidade e corresponsabilidade, trabalhem para a construção de uma nova civilização, que Papa Paulo VI apontou como “Civilização do amor”. Que papel poderia assumir entre nós todos o trabalho de Justiça Restaurativa e Circularidade?
- Favorecer a valorização e a apropriação dos frutos das recentes experiências sinodais nos planos universal, regional, nacional e local.
Nossa caminhada nacional tem já cinquenta 50 anos e nesse tempo houve várias experiências que precisamos valorizar e nos apropriar, como expressão de sinodalidade, de um caminho comum. Como superar nacionalismos, regionalismos, paroquialismos, guetos, para nos apropriar e valorizar experiências e nos projetar como pastoral de comunhão, participação e missão num universo que pede cada vez um caminhar, um sonhar, um agir juntos?
Conclusão:
«Aquilo que o Senhor nos pede, de certo modo está já tudo contido na palavra “Sínodo”», que «é palavra antiga e veneranda na Tradição da Igreja, cujo significado recorda os conteúdos mais profundos da Revelação» […] Nesta perspectiva, a sinodalidade é muito mais do que a celebração de encontros eclesiais e assembleias de Bispos, ou uma questão de simples administração interna da Igreja; ela «indica o específico modus vivendi et operandi da Igreja, o Povo de Deus, que manifesta e realiza concretamente o ser comunhão no caminhar juntos, no reunir-se em assembleia e no participar ativamente de todos os seus membros na sua missão evangelizadora». [Documento Preparatório 10].
→A partir destas atitudes que nos são colocadas procuremos responder a algumas questões:
- Como podemos valorizar a história e a caminhada da Pastoral Carcerária até nossos dias? E a partir dela quais novos passos dar rumo a “um mundo sem prisões?”.
- Como envolver mais todos/as para que o projeto pastoral de um “Mundo sem Cárceres” seja realmente participado e vivenciado por toda a Pastoral Carcerária e seus membros em todos os rincões desse nosso Brasil?
- Como valorizamos e damos espaço aos dons de cada um/a na ação do dia a dia da Pastoral Carcerária. Que espaço damos aos privados/as de liberdade, suas famílias e aos sobreviventes do cárcere em nossa ação pastoral?
- Como podemos ajudar a comunidade cristã para que ela possa assumir como compromisso da própria comunidade paroquial, diocesana a Pastoral Carcerária como uma das prioridades de seu ser “Igreja em saída”? Quais passos concretos podemos sugerir no âmbito do processo de sinodalidade?
- Como agentes de pastoral como podemos ajudar as comunidades cristãs a retomar o diálogo com as demais realidades da sociedade. Que papel poderia assumir entre nós todo o trabalho de Justiça Restaurativa e Circularidade?
Convidamos cada estado, (arqui)diocese, prelazia, paróquia onde existe a Pastoral Carcerária a fazer este processo sinodal e a nos enviar seu resultado por escrito. Gratidão.
*Padre Gianfranco Graziola é assessor espiritual da Pastoral Carcerária Nacional