Poucos dias após a celebração do 50 o Dia Mundial da Paz, quando o Papa Francisco se dirigiu ao mundo exortando para a não violência, explode no Brasil uma barbárie que chocou a população brasileira, bem como o mundo. A luta pelo poder, pela exploração de locais para o tráfico de drogas, deflagrou uma onda de crimes horrendos em algumas prisões brasileiras, evidenciando que o sistema prisional brasileiro está falido e é reflexo da desumanização da sociedade.
Sim, vivemos numa sociedade doente e desumana, mais preocupada em construir casas de detenção, presídios de segurança máxima, pouco preocupada com as pessoas e com sua dignidade. Muitos dos detentos de nosso sistema prisional são gerados pela nossa própria sociedade e suas instituições. Quando faltam ideais que movem a vida, quando não há mais temor de Deus, que é o princípio da sabedoria; quando a família não é mais escola de amor; quando na escola não há colaboração entre pais e professores, quando os alunos veem seus colegas como concorrentes; quando no mundo do trabalho as pessoas são apenas números; quando os valores veiculados pelos meios de comunicação social, têm pouco de humano, o que se pode esperar?
Existe uma violência institucionalizada: cada um quer levar vantagem em tudo; um irmão explora o próprio irmão; a violência no trânsito é assustadora e põe em risco a vida dos outros. O sistema jurídico se torna ineficiente pela sua lentidão. Nos presídios, encontram-se pessoas que estão há anos esperando ser sentenciadas, o que é mais uma violência. A população encarcerada quatro vezes maior do que a capacidade dos presídios, isso é desumano e, também gera violência.
Nós cristãos devemos crer que, apesar de tudo, Deus habita nossas cidades, mesmo se violentas. Deus ama a todos, ama também os encarcerados. Deus perdoa o pecador quando se converte. Que ninguém seja presunçoso ou se julgue melhor do que os outros, porque muitas vezes somos bons não por contrição, por misericórdia, mas por conveniência. Rezemos por todas as pessoas que sofrem vitimadas por qualquer tipo de violência, sobretudo as de nossa cidade, onde poderíamos mais e melhor praticar a misericórdia e não a fazemos. Rezemos por um mundo sem violências, sem injustiças, sem ódio e sem morte.
* Artigo publicado por Dom Eduardo Vieira dos Santos, bispo auxiliar da Arquidiocese de São Paulo, na edição do jornal O São Paulo, semanário da Arquidiocese, em 25/01/2017