Pastoral Carcerária e Justiça Restaurativa

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A Pastoral Carcerária pretende ser a presença de Cristo junto aos encarcerados, sendo um sinal de fé, esperança e acolhida, animados pelo Evangelho e tendo como objetivo evangelizar e promover a dignidade da pessoa.

Ela também busca conscientizar a sociedade da real situação do sistema prisional, apontado para a superação da justiça retributiva/punitiva em vista da justiça restaurativa.
Ela atua junto àqueles que tem sua liberdade privada.

Também atua junto de suas famílias, através de encontros de formação e espiritualidade, priorizando e apostando na valorização da pessoa em vista de recuperar a dignidade perdida, resultado do aprisionamento e reinserção social.

Atualmente usa-se em demasiado a expressão “fazer justiça!”, sendo urgente a interrogação: “o que é justiça para mim?”. Alguns dirão que é dar a todos aquilo que lhe é de direito, como acesso à saúde, moradia, trabalho, educação, etc.

Outros ainda afirmarão que é castigar quem burla as regras ou ainda colocar na cadeia quem comete erros, a fim de pagar pelo delito cometido. No âmbito religioso, muitas vezes se pensa que a justiça vem de Deus, que castiga ou recompensa conforme a conduta de cada um. Desse modo, é possível perceber que, de acordo com a situação, o termo justiça tem diversos modos de ser compreendido.
Enfim, o que é justiça? É aquilo que restaura. SIM, ela é capaz de restaurar! E, nesta restauração se destacam três erres: Reconhecer, Responsabilizar-se, Restaurar. Na justiça da igualdade de deveres e direitos vê-se que, quando a sociedade reconhece, se responsabiliza e repara, a justiça punitiva que encarcera e humilha não mais existirá.

A sociedade precisa agir de forma restaurativa. O perdão e a reconciliação têm sua beleza e complexidade, mas compreende-se que são fundamentais para um mundo sem cárceres, pois este é o elemento visível de uma injustiça maquiada de justiça, já que em nenhum momento prima-se pela ressocialização, reconexão ou crescimento do indivíduo preso e às vítimas destes delitos nada é restituído.

Com o objetivo de propor um mundo sem cárceres, a PCr está formando agentes com método. A justiça restaurativa, que busca colocar a vítima no centro do conflito, mas também proporcionar ao agressor o reconhecimento do dano causado, a partir da escuta ativa, de forma circular, para assim acontecer a responsabilização, seja do agressor ou vítima.

A escola do perdão e reconciliação direciona a pessoa ao conhecimento de si mesmo, pois ao se confrontar, em sua interioridade, com as próprias limitações, é possível também controlar as próprias emoções.

Isso implica em um processo no qual o primeiro passo é perdoar-se a si mesmo, para em seguida perdoar o outro. Quando se compreende que todos são sujeitos dos mais variados sentimentos, raiva, rancor e inclusive o nefasto ódio, é possível entrar em si e, conhecendo-se, ver a possibilidade de também cometer algum ato ilícito ou algum dano a outrem. O diferencial está no dar-se conta.

Um mundo sem cárceres só poderá acontecer quando ocorrer “desencarceramento” da própria alma de todo e qualquer preconceito, prepotência, egoísmo, desejo de vingança, desamor, entre outras más inclinações. Só desta forma será possível vislumbrar a justiça sob outro prisma.

Juntamente com esta metodologia, a pastoral carcerária nacional busca construir a paz através dos agentes facilitadores, reparando danos, refazendo relações em processos circulares, unindo teoria, vivência e prática, o tripé que alicerça esta caminhada restaurativa.

Sendo assim, os agentes da pastoral carcerária, cientes da justiça restaurativa e de suas práticas circulares, fazem a visita religiosa às pessoas privadas e liberdade e também aos seus familiares. Esta metodologia que os povos originários usam de forma circular conecta os envolvidos no conflito e as relações quebradas por ele, através do diálogo entre os interessados, torna-se possível reparar danos e reatar laços, tendo em vista um mundo sem cárceres. O meio para atingir este fim é o da justiça restaurativa, uma ferramenta usada com a cultura da paz como firme convicção de romper com o ciclo da violência.

Ser agente na pastoral carcerária requer habilidade emocional e demasiado desejo de fazer acontecer o que Jesus disse: “Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância (Jo 10,10). A pastoral quer devolver o direito de falar a quem isso lhe foi tirado e propõe deixar de lado o velho sistema e abraçar a nova restauração, sendo um sinal de ressurreição.

Ao superar a morte, Jesus supera também a cruz do medo, do egoísmo, da injustiça, fazendo nascer a vida plena. No mundo do cárcere as mortes são diversas e a ressurreição acontece quando todo cristão se compromete a encarnar os valores do Cristo no hoje da história, seguindo as pegadas daquele que é todo bem.

Elisabete Gambatto é acadêmica no ITEPA FACULDADES

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