Uma Igreja que vai ao encontro

 Em Igreja em Saída

Gianfranco (1)A Campanha da Fraternidade 2015 faz uma análise da realidade interessante e embora na sua brevidade, abre os olhos da Igreja para uma realidade cada vez mais plural, pluriétnica, pluricultural, complexa, questionadora, desafiante e ao mesmo tempo cativante, colocando-a numa atitude de saída, missão e escuta.
Nesse sentido, a segunda parte do texto base, o Iluminar, convida-nos a repercorrer como o povo de Israel nossa própria experiência de povo mergulhado na história de nosso tempo, conscientizando-nos que as atitudes da nação eleita se repetem em nossa vida. As escravidões, os desertos, as tentações idolátricas e consumistas, os caminhos tortuosos, as infidelidades, fazem parte de nossa cotidianidade, da experiência de todo o ser humano. Nesse contexto, se coloca a história de Jesus e o novo projeto do Pai, onde o sinal da aliança entre Deus e seu povo deixam de serem as regras frias, sem vida, esculpidas na pedra, para se transformar numa nova lógica, a do serviço, da doação: “se eu que sou o mestre e Senhor fiz isso, também vocês devem fazer isso uns aos outros”.  E aqui, no amor que se curva sobre os pobres, sobre os lascados e caídos de nossa sociedade, que se constrói a nova linguagem de uma Igreja em saída, samaritana, missionária, preocupada com pessoas mais do que com regras, com sanções e punições. Não mais uma comunidade virada para si mesma, mas uma comunidade que coloca na prática do dia a dia as palavras de seu mestre e Senhor: “Eu vim para que tenham vida e vida em plenitude” (Jo 10,10).
Esse é também o desafio que é colocado para a Igreja e para a evangelização como um todo, onde as pastorais, e entre elas a Pastoral Carcerária, inspirada nos passos de Jesus, são chamadas não apenas a orar, a pregar a Palavra, a realizar celebrações bonitas, mas a ser testemunha dela, a ser rosto de Cristo que infunde esperança, que acredita onde a lógica humana afirma não ter mais esperança.
Num contexto social em que vige a lei do mais forte, onde a palavra de ordem é “punir”, “castigar”, “descartar”, somos chamados como Igreja a manifestar a misericórdia, o amor de Deus, que no mistério de morte e vida que viveremos na Semana Maior, na Semana Santa, proclama a vitória da vida sobre a cultura de morte. Na medida em que seremos capazes de mudar nosso olhar, nossa mentalidade, nosso sentir, tirando os ódios, a sede de vingança, a violências, e gastarmos a vida para os irmãos e irmãs, independentemente de nosso credo, de nossa religião, construiremos o que Jesus anuncia na cruz: a consumação, a realização do Reino de Deus. Mas por isso, devemos superar os medos e com Jesus tirar a pedra do nosso tumulo para deixar explodir a vida e a vida que não tem fim.
Nessa linha se coloca o Jubileu da Misericórdia proclamado por Papa Francisco no dia do segundo aniversário de sua escolha como Bispo da Igreja de Roma, que preside as demais Igrejas na caridade. Com esse gesto, o Papa, no seu serviço de guia e pastor, quer ajudar todos nós, cristãos ou não, a purificar nosso olhar e a deixar-nos abraçar pela misericórdia de Deus. Só quem faz a experiência do perdão, da misericórdia e do abraço carinhoso do Pai será capaz de perdoar, de amar, de acolher novamente em sua vida o outro, mesmo quem errou, quem caiu. A lógica da misericórdia e do perdão é o caminho para uma humanidade renovada, para que a pessoa possa ser recolocada no centro de nossa história. É essa a Páscoa que nos faz novas criaturas.
 
Padre Gianfranco Graziola
Vice-coordenador nacional da Pastoral Carcerária

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