Marcelo Naves: ‘Esperamos terra, trabalho e teto para os marginalizados’

 Em Igreja em Saída

Grito_ExcluidosEm todo o Brasil, diferentes movimentos, pastorais e organizações sociais participaram do Grito dos Excluídos. Em São Paulo, na edição de número 21 do Grito, as ações se concentraram na região central, após a missa de 7 de setembro, na Catedral da Sé.
Participante da atividade junto a outros agentes da Pastoral Carcerária, Marcelo Naves, vice-coordenador da PCr na Arquidiocese de São Paulo, comentou que o Grito dos Excluídos está ligado à maneira como o Papa Francisco trata de assuntos relevantes e se relaciona com os movimentos sociais.
“Trabalho, terra e teto é a pauta que a Igreja assume, que o Papa nos propõe e que as pastorais sociais também assumem, e neste Grito dos Excluídos a gente coloca como uma discussão importante para o Brasil, para a população pobre poder ter dignidade”, afirmou ao jornal O São Paulo, da Arquidiocese de São Paulo.
Abaixo segue a reportagem completa do jornal, de autoria do jornalista Edcarlos Bispo.
 
‘Que país é este que mata gente, que a mídia mente e nos consome?’
Depois da missa pela pátria, celebrada na Catedral da Sé e presidida pelo Cardeal dom Odilo Pedro Scherer, em 7 de setembro, cerca de 300 pessoas se reuniram, mesmo debaixo de chuva, na Praça da Sé, para participar do 21º Grito dos Excluídos.
Com o tema “Que país é este que mata gente, que a mídia mente e nos consome?”, o evento apresentou críticas à forma como as grandes empresas de comunicação retratam os fatos e acontecimentos que envolvem a vida do povo brasileiro, em espacial os mais pobres.
De acordo com Paulo Pedrini, da Pastoral Operária, o Grito dos Excluídos 2015 trabalhou com três eixos: juventude, violência e extermínio; violência contra a população de rua; e o papel da mídia.
Ao falar sobre a população de rua, Paulo destacou a ação de Francisco Erasmo Rodrigues de Lima, morador de rua, que foi assassinado na sexta-feira, 4, nas escadarias da Catedral da Sé, “um excluído, com um gesto de intervir em uma situação onde ele acabou perdendo a vida sem conhecer a pessoa, realizou um ato que nos faz pensar muito. Ele, como muitos excluídos que são tratados de uma maneira tão degradante em nossa sociedade, fez um gesto de dar a vida por alguém que nem conhece, isso marca muito no dia de hoje. É difícil dissociar o que aconteceu na sexta-feira com o ato de hoje”.
Para o Padre Julio Lancellotti, vigário episcopal para a Pastoral o Povo da rua, a população em situação de rua “é vista como um povo descartado” e que até os próprios movimentos sociais precisam ser “mais popularizados” e olhar o mundo “a partir do olhar dos moradores de rua”.
 
Por uma mídia mais democrática
No bojo das críticas desse 21º Grito dos Excluídos, as grandes empresas de comunicação não foram poupadas. Padre Julio, por exemplo, destaca que, na visão dele, elas procuram “coisificar o sofrimento do povo de rua. É feito espetáculo assim como toda violência e não se olha para toda complexidade humana que existe e também não se dá voz ao grito deles ao sofrimento deles faz parte do esquema de domesticação e de tornar a população de rua um produto de consumo”.
Já Paulo destaca que uma das principais críticas se dá a alguns programas de televisão que “tratam a questão da violência e da desigualdade de uma forma sensacionalista”, além de apoiarem “retrocessos históricos no País”. Para ele, “a mídia tem que ter o papel de informar de fato e ter uma posição democrática”.
O vice-coordenador da Pastoral Carcerária da Arquidiocese de São Paulo, Marcelo Naves, relembrou o surgimento do Grito dos Excluídos, nos anos 1990, que ainda hoje está “ligado a forma como o Papa Francisco busca pautar assuntos importantes, principalmente sua relação com os movimentos sociais”.
Marcelo recordou o encontro do Papa com os movimentos sociais, no qual o Pontífice defendeu os três “Ts” – terra, teto e trabalho. “Então trabalho, terra e teto é a pauta que a Igreja assume, que o Papa nos propõe e que as pastorais sociais também assumem e neste Grito dos Excluídos a gente coloca como uma discussão importante para o Brasil, para a população pobre poder ter dignidade”.
Sobre a grande mídia, Marcelo destacou que “as grandes empresas que monopolizam a informação no país, encobrem ou mentem e não mostram os reais conflitos ou contradições que estão em jogo em nossa sociedade”. Sobre a crise que vive a sociedade, Marcelo destacou que ela “viola a vida dos mais pobres, então, o que esperamos é que as medidas governamentais sejam não para favorecer o capital, mas sim para que promova justamente terra, trabalho e teto para os marginalizados”.
 
Por vida plena para a juventude 
Ao fazer um momento de mística e oração durante o ato, Franklin Felix, da Rede Ecumênica da Juventude (Reju), pediu para que as pessoas escrevessem em cartolinas o que desejavam para os jovens. Os votos foram os mais variados: “educação”; “saúde”; “trabalho”; “não à redução da idade penal”.
Para Franklin, é importante que os coletivos religiosos, como a Reju e a Pastoral da Juventude (PJ), ocupem esses espaços, “para mostrarmos para todo mundo em especial para a grande mídia que existem religiosos e religiosas que são contra a violação dos direitos humanos”.
“Acreditamos que a vida tem que ser dada em abundância para toda a juventude. Juventude que temos próximo e a juventude que não está tão perto assim, a juventude das periferias e a juventude de dentro de nossa casa. Vida em abundância para toda a juventude”, afirmou Franklin.
Participante da PJ na Região Brasilândia, Simone Alves de Araújo destacou que a mídia “reporta os jovens de forma negativa”. Para ela, a Pastoral da Juventude é a favor da vida, por esse motivo se coloca contra a redução da idade penal.
 
Como surgiu 
O Grito dos Excluídos promovido pela Igreja Católica surgiu em 1994 com o objetivo de aprofundar o tema da Campanha da Fraternidade do mesmo ano, que tinha como lema “Eras tu, Senhor”, e responder aos desafios levantados na 2ª Semana Social Brasileira, cujo tema era “Brasil: alternativas e protagonistas”. Em 1999, o Grito rompeu fronteiras e estendeu-se para as Américas.
Fonte: Jornal O São Paulo/9 de setembro
 
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