Irmã Alessandra Santana, da PCr de Goiânia, conta experiências de visitas às prisões

 Em Igreja em Saída

“Visitar o cárcere tem me ajudado a ‘desromantizar’ o mundo, porque ao entrar em contato com a pessoa privada de sua liberdade, independentemente do que tenha cometido ou do que é acusada, sei que ela é um ser criado por Deus e, por isso, merecedor/a do todo afeto e atenção, e que deve ter a sua dignidade respeitada de forma incondicional”, relata a Irmã Alessandra Santana, Congregação de Santa Paulina, agente da Pastoral Carcerária na Arquidiocese de Goiânia. A íntegra do texto segue abaixo.
Desromantizar’ o mundo sem perder o romantismo
Diante das experiências novas que tenho feito na Pastoral Carcerária, estou passando a ter uma visão mais crítica das mazelas da sociedade.
Visitar o cárcere, um lugar deteriorado, sem luz, sem vidas respeitadas e sem alegria tem suas consequências. No meu caso, tem me ajudado a perceber que a vida plena clama muito mais do que eu percebia, pois a dignidade da pessoa humana está sendo rompida de maneira brutal. Ao visitar um cárcere, saímos diferentes, saímos com “cheiro de ovelha” sofrida e não conseguimos sair sozinhas/os. A sensação é que vem conosco cada pessoa que ficou presa. E é como se nós também ficássemos presas/os lá com elas.
Visitar o cárcere tem me ajudado a “desromantizar” o mundo, porque ao entrar em contato com a pessoa privada de sua liberdade, independentemente do que tenha cometido ou do que é acusada, sei que ela é um ser criado por Deus e, por isso, merecedor/a do todo afeto e atenção, e que deve ter a sua dignidade respeitada de forma incondicional.
Gosto de escrever poemas, mas percebi que não faz sentido escrever palavras bonitas se elas não forem recheadas de senso crítico e de visão holística da realidade.
“Desromantizar” o mundo sem perder o romantismo é fazer a experiência de mergulhar num contexto de luta, de dor e de sofrimento e dele sair disposta/o a semear a cultura do cuidado mútuo e do amor que vai além dos erros que qualquer pessoa tenha cometido. Não nos esqueçamos que todas/os erramos. É buscar a vida em abundância e a dignidade para quem perdeu a liberdade e, quem sabe, tenha perdido também a capacidade de sonhar e de ver novos horizontes.
Para muitas/os, a utopia do “mundo sem cárcere” pode parecer pretenciosa e irrealizável. Mas por que não sonhar com a convivência humana de forma harmoniosa?
Por que não acreditar que a pessoa pode se redimir e se reconciliar com as outras pessoas e com a sociedade sem ser privada da sua liberdade?
Por que não sonhar em ver no lugar dos presídios, escolas de qualidade e espaços que promovam o ser humano?
Por que não sonhar com o fim das torturas, da violência e da submissão?
Quando os muros dos presídios caírem, teremos chegado à Terra prometida, teremos compreendido que o aprisionamento não é o caminho, e que a solução está em políticas sociais efetivas e de qualidade.
Concluo meu pensamento com um refrão do Zé Vicente, que embora esteja distante de acontecer, nos impulsiona a continuar sonhando: “Quando as cercas caírem no chão, quando as mesas se encherem de pão, eu vou cantar. Quando os muros que cercam os jardins, destruídos, então os jasmins vão perfumar…”.

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