Para quem está seguindo faz algum tempo o Papa Francisco, ficando admirado e encantado com suas palavras e atitudes, o ficará ainda mais quando tomar conhecimento desta sua nova obra de arte: a Carta Encíclica ‘Laudato Si’, cuja fineza e densidade vão penetrando, envolvendo quem vai lendo, na contemplação do mistério de Deus que se manifesta não apenas na complexidade do universo, mas especificamente nas suas criaturas colocando-nos dentro da grande casa que o Criador constitui como irmã e como mãe.
Mas a unicidade da “Laudato Si” está no processo que ela vai construindo e que o próprio Francisco parece ter desenvolvido, não apenas com as suas mãos, com a sua inteligência, com o seu sentir, mas com a colaboração e o envolvimento do irmão Bartolomeu, e de tantos outros irmãos do universo inteiro que o ajudam a repercutir e transmitir o louvor e a riqueza de uma ecologia integral que tem seu espelho e modelo em Francisco de Assis, de quem assumiu o nome e cuja alegria vive na sua alegre, espontânea e imediata ação pastoral que tem na pedagogia do encontro, da acolhida, da abertura ao outro, ao diferente e na predileção evangélica dos mais pobres o fulcro e ápice teológico.
É nesta unicidade e harmonia de elementos contrastantes e opostos, quase paradoxais como a globalização do paradigma tecnocrático, a crise do homem moderno e suas consequências, o relativismo prático, a necessidade de defender o trabalho que o Papa Francisco nos desafia, como pessoas, como instituição, como pastoral, a caminhar para passar de uma ecologia poética e ideológica, para a ecologia integral. Isso significa penetrar totalmente numa realidade questionadora e conflitante sem, porém, impor nossa lei, sem pensar que temos a chave e a resposta para tudo e todas as situações; ao contrário, é nossa tarefa levar por meio do diálogo a questão do meio ambiente na política internacional, nacional e local, de forma transparente para que sejam realizados os devidos processos decisórios por meio da contribuição das ciências e a sabedoria das tradições religiosas.
Eis algumas linhas de orientação que por meio da educação e espiritualidade ecológicas nos apontam um novo “estilo de vida” onde se consuma a aliança entre a humanidade e o ambiente, se realiza a conversão ecológica da alegria e da paz, o amor civil e político, e os sinais sacramentais do descanso celebrativo, contemplando o Deus Trindade e sua relação com e entre as criaturas.
E a conclusão que nos vem de tudo isso é uma nova humanidade onde “encontrar-nos-emos face a face com a beleza infinita de Deus (cf. 1 Cor 13,12) e poderemos ler, com jubilosa admiração, o mistério do universo, o qual terá parte conosco na plenitude sem fim (…). Juntamente com todas as criaturas, caminhamos nesta terra à procura de Deus, porque, ‘se o mundo tem um princípio e foi criado, procura quem o criou, procura quem lhe deu início, aquele que é o seu Criador’. Caminhemos cantando; que as nossas lutas e a nossa preocupação por este planeta não nos tirem a alegria da esperança (…). No coração deste mundo, permanece presente o Senhor da vida que tanto nos ama. Não nos abandona, não nos deixa sozinhos, porque Se uniu definitivamente à nossa terra e o seu amor sempre nos leva a encontrar novos caminhos. Que Ele seja louvado! (Laudato Si’, nº 243-245).
Padre Gianfranco Graziola,
Vice-coordenador nacional da Pastoral Carcerária Missionário da Consolata
*Artigo publicado na revista Mundo e Missão
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