Papa Francisco e a Justiça Restaurativa – Quando o Amor se Faz Ação

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“O nome de Deus é misericórdia.” – Papa Francisco

Em um mundo onde o julgamento parece mais rápido do que a escuta, e a punição mais fácil do que o perdão, Papa Francisco se levanta como profeta restaurativo. Com gestos, palavras e escolhas, ele nos oferece não apenas uma proposta de Igreja, mas de humanidade: uma humanidade capaz de restaurar o que foi quebrado, de recomeçar onde houve queda, de escutar onde tudo emudeceu.

“Quem sou eu para julgar?” – disse o Papa, desarmando os muros da exclusão e convidando-nos a olhar para o outro com ternura, não com a régua da perfeição. Essa postura profundamente restaurativa se reflete nas visitas aos cárceres, onde lavou os pés de pessoas presas, tocando feridas e realidades que o mundo prefere esquecer. Francisco não lavou apenas os pés. Lavou preconceitos. Lavou silêncios. Lavou culpas que não são só dos presos, mas da sociedade que os marginaliza antes mesmo do nascimento.

“A verdadeira justiça é a que se reconcilia com o amor.”
Esse é o centro da justiça restaurativa: ir além da lei para tocar o coração. Ver a dor antes do crime. Ouvir o clamor antes da sentença. Oferecer a possibilidade de reparar, de assumir a responsabilidade, de ser acolhido como um ser humano que erra, sim, mas que também pode amar, mudar, restaurar.

E o sistema prisional?
O Brasil ocupa o terceiro lugar no mundo em população carcerária, com mais de 835 mil pessoas presas. A maioria é formada por jovens, negros, pobres e periféricos. Filhos e filhas de uma história marcada pela exclusão social, falta de acesso à educação, saúde, cultura e oportunidades dignas. Antes de qualquer crime, muitos já haviam sido condenados pela cor da pele, pelo CEP, pela ausência do Estado.

Essa massa encarcerada é alimentada por uma justiça punitiva que grita por vingança, mas silencia diante da dor estrutural. Uma justiça que prende para responder ao medo social, mas não repara, não educa, não transforma.

Mas como avançar com a Justiça Restaurativa, se a população clama por vingança?
Como defender o diálogo e a reparação diante do crescimento assustador de feminicídios, linchamentos, ataques a pessoas em situação de rua, crimes bárbaros que geram revolta e desejo de retaliação? Como caminhar com a ternura do Evangelho quando o discurso dominante pede punição máxima, morte e esquecimento?

Papa Francisco nos ajuda a enxergar outro caminho. Ele fala da “cultura do encontro”, da “Igreja em saída”, da coragem de tocar as feridas. Ele afirma com firmeza:

“A misericórdia não é um remendo, mas o coração do Evangelho.”
“A paz exige trabalho, a guerra é fácil.”
“Ninguém se salva sozinho.”

Essas palavras nos convocam a formar uma nova consciência social. Não se trata de negar os crimes, mas de superar o ciclo da violência com a construção de alternativas reais, que promovam justiça com verdade, escuta, responsabilização e reparação.

Justiça Restaurativa é ação cristã. É política pública. É amor encarnado.
É uma pedagogia de paz que pode e deve ser aplicada nas escolas, nos presídios, nas famílias, nas igrejas, nas políticas.
E no cotidiano? Como praticamos – ou deixamos de praticar – essa justiça restaurativa?

– Quando julgamos uma pessoa pela aparência ou pelo passado, restauramos? Quando excluímos alguém que falhou: há ali justiça ou apenas correção disfarçada de desprezo?
– Quando uma comunidade religiosa fecha suas portas a quem ama diferente, onde está a justiça do Evangelho?

Papa Francisco nos exorta:
“É hora de construir uma nova cultura, uma cultura da misericórdia.”
Essa cultura não é sentimentalismo. É responsabilidade. É fé madura. É política do cuidado.

Papa Francisco atuou restaurativamente ao:
• abrir as portas do Vaticano a pessoas em situação de rua;
• acolher migrantes com gestos concretos;
• pedir perdão, em nome da Igreja, pelos erros históricos;
• denunciar a indiferença como pecado coletivo;
• abraçar vítimas e agressores, promovendo o diálogo;
• dizer: “Prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas, do que uma Igreja enferma pelo fechamento.”

No fundo, Papa Francisco nos oferece o caminho de um Cristo restaurador.
Aquele que não condenou a adúltera. Que curou sem perguntar causas. Que perdoou antes de exigir mudança. Que restaurou vidas com amor.

E então, a pergunta que nos resta é:
– Quantas vezes, hoje, somos rostos de uma justiça que restaura – ou de uma justiça que esmaga?
– Estamos formando filhos para restaurar relações ou para excluir quem erra?
– Na fé, somos mais rápidos em condenar ou em acolher?
– Como seguir o Cristo restaurador se ainda temos sede de punição?

Francisco nos mostrou que a justiça que não cura é só poder. E que o poder do Evangelho está no amor que restaura.
“Sejamos artesãos de paz e semeadores de justiça.” – Papa Francisco
Porque onde há justiça com amor, ali está Deus.
E onde há Deus, sempre há um novo começo.

Texto: Vera Dalzotto e Erika Silva

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