Relendo e rezando juntos o cântico poético do “servo sofredor” de Isaias a luz do homem da cruz que ainda vive e está presente no sistema penitenciário que pune, moe e mata tantas mulheres e homens:

«Assim como muitos ficaram pasmados ao vê-lo – tão desfigurado ele estava que não parecia ser um homem ou ter aspecto humano -»            (Is.52,14)

Quantos homens e mulheres ainda hoje estão desfigurados, parecem não ser considerados humanos, jogados, mas masmorras de um sistema que pune e mata, exclui e descarta porque os considera lixo.

«Não tinha beleza nem atrativo para o olharmos,
não tinha aparência que nos agradasse».

(Is.53,2)

Apenas atraem e são vistos como os maus, os malfeitores. Dele se fala como bandidos que não agradam e são um peso pela sociedade e por isso só fazem parte do sensacionalismo midiático.

«Era desprezado como o último dos mortais, homem coberto de dores, cheio de sofrimentos; passando por ele, tapávamos o rosto; tão desprezível era, não fazíamos caso dele». (Is 53, 3)

O desprezo acompanha a sua vida, o seu dia a dia, estão cobertos de dores, sofrimento, passam por eles sem fazer caso, os conhecem pelos artigos da lei que os julga e os condena, tapam o rosto com a balaclava, são objeto de tortura, são insultados e torturados e ninguém faz caso ou se preocupa com eles.

 «…nós pensávamos fosse um chagado, golpeado por Deus e humilhado! Mas ele foi ferido por causa de nossos pecados, esmagado por causa de nossos crimes; a punição a ele imposta era o preço da nossa paz, e suas feridas, o preço da nossa cura». (Is. 53,4-5)

Quantas vezes nosso olhar, sentir, nossas convicções religiosas usam e abusam de Deus para julgar, excluir, punir nossos irmãos e nossas irmãs. Há quem considere a prisão como um lugar de “redenção” quando na realidade é o moderno campo de concentração, o gólgota sobre o qual diariamente é golpeada, trucidada, crucificada e esmagada a vida humana.

«Foi atormentado pela angústia e foi condenado. Quem se preocuparia com sua história de origem? Ele foi eliminado do mundo dos vivos; e por causa do pecado do meu povo foi golpeado até morrer». (Is 53 8)

“Por que eles e não eu?”. Esta frase foi repetida várias vezes por Papa Francisco nos seus encontros com privados e privadas de liberdade durantes suas viagens apostólicas. E nos diz na Laudato Si – «O livro da natureza é uno e indivisível», incluindo, entre outras coisas, o ambiente, a vida, a sexualidade, a família, as relações sociais. Esquece-se que «o homem não é apenas uma liberdade que se cria por si própria. O homem não se cria a si mesmo. Ele é espírito e vontade, mas é também natureza » (LS 6).

«Meu Servo, o justo, fará justos inúmeros homens, carregando sobre si suas culpas. Ele, na verdade, resgatava o pecado de todos e intercedia em favor dos pecadores». (Is 53, 11 -12)

“Por outro lado, São Francisco, fiel à Sagrada Escritura, propõe-nos reconhecer a natureza como um livro esplêndido onde Deus nos fala e transmite algo da sua beleza e bondade: «Na grandeza e na beleza das criaturas, contempla-se, por analogia, o seu Criador» (Sab 13, 5) e «o que é invisível n’Ele – o seu eterno poder e divindade – tornou-se visível à inteligência, desde a criação do mundo, nas suas obras» (Rm 1, 20) O mundo é algo mais do que um problema a resolver; é um mistério gozoso que contemplamos na alegria e no louvor”. (LS. 12)

Como conclusão te convido a cantar e rezar este canto significativo e bonito:

Seu nome é Jesus Cristo – Pe. André Luna

Seu nome é Jesus Cristo e passa fome
E grita pela boca dos famintos
E a gente quando vê passa adiante
Às vezes pra chegar depressa a igreja

Seu nome é Jesus Cristo e está sem casa
E dorme pelas beiras das calçadas
E a gente quando vê aperta o passo
E diz que ele dormiu embriagado

Entre nós está e não O conhecemos
Entre nós está e nós O desprezamos

Seu nome é Jesus Cristo e é analfabeto
E vive mendigando um subemprego
E a gente quando vê, diz: “é um à toa
Melhor que trabalhasse e não pedisse”

Seu nome é Jesus Cristo e está banido
Das rodas sociais e das igrejas
Porque d’Ele fizeram um Rei potente
Enquanto Ele vive como um pobre

Entre nós está e não O conhecemos
Entre nós está e nós O desprezamos

Seu nome é Jesus Cristo e está doente
E vive atrás das grades da cadeia
E nós tão raramente vamos vê-lo
Dizemos que ele é um marginal

Seu nome é Jesus Cristo e anda sedento
Por um mundo de Amor e de Justiça
Mas logo que contesta pela Paz
A ordem o obriga a ser de guerra

Entre nós está e não O conhecemos
Entre nós está e nós O desprezamos

Seu nome é Jesus Cristo e é difamado
E vive nos imundos meretrícios
Mas muitos o expulsam da cidade
Com medo de estender a mão a ele

Seu nome é Jesus Cristo e é todo homem
E vive neste mundo ou quer viver
Pois pra Ele não existem mais fronteiras
Só quer fazer de nós todos irmãos

Entre nós está e não O conhecemos
Entre nós está e nós O desprezamos

Pe. Gianfranco Graziola, Assessor Teológico da PCr Nacional

 

 

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