A hora de Maria e das Marias

 Em Igreja em Saída, Notícias

Padre Gianfranco Graziola

Muitas pessoas, inclusive as mais assíduas de nossas comunidades, ignoram o porquê na tradição cristã o sábado é caraterizado por um carinho especial a Maria, Mãe de Jesus. Talvez conheçam e celebrem as dores ou as glorias de Maria e tantas outras festas e memórias que mensalmente a liturgia coloca no calendário, mas ignorem aquela que eu considero foi a “hora”, o momento mais desafiador, mais intenso e ao mesmo tempo repleto de questionamentos, interrogações para a jovem de Nazaré, a quem de supetão foi encomendada a tarefa de ser a Mãe do Salvador, realizando a promessa de Deus ao seu povo.

A hora de Maria, que começa em Caná da Galileia, no «fazei o que ele vos disser», encontra um eco mais concreto no momento em que a pedra fecha o túmulo onde é colocado seu filho, depois de, como Mãe, ter vivido os momentos dilacerantes de acolher em seu colo o seu corpo brutalmente massacrado e desfigurado pela cruz e pela morte.

O que terão sido àquelas noites que a separariam daquela manhã radiante do primeiro dia da semana? Qual noite da fé, qual escuridão teria calado sobre ela naquela hora? O que teria sido aquela manhã do sábado, tempo de solidão enquanto ia fazendo memória do caminho da vida e da sua presença quase imperceptível, mas constante nos momentos importantes da vida do Filho.

Teriam ressoado e ecoado no coração e na memória as frases pronunciadas pelo filho ao longo da caminhada: «Não sabiam que eu devo ocupar-me das coisas de meu Pai… mulher ainda não chegou a minha hora… quem é minha mãe, quem são os meus irmãos… » e quando a hora chegou:  «mulher este é teu filho…filho esta é tua mãe».

É a hora da solidão, a hora da maior dor, que o silêncio do sábado torna mais aguda e lancinante, e enche o peito e o coração da Mãe das Dores, cujo grito silencioso faz-se eco do grito silencioso e intenso de tantas mães que, como ela, viram e continuam vendo seu filho assassinato pelo sistema injusto e assassino. Aquele sistema cruel e pérfido que encarcera e mata, feito de justiça aparente que exclui e descarta, transformando o Deus misericordioso num Deus que pune e justiceiro.

Entretanto, elas continuam com aquela dor que não quer calar, que não aquieta e sossega, e consome até o mais profundo do ser, deixando só espaço a esperança, que depois daquele sábado haverá um novo dia, onde ao raiar trará nova vida, nova luz e esperança. Àquela vida que só o ressuscitado pode dar e que ecoa no grito de Maria de Magdala: «Vi Cristo ressuscitado, o tumulo abandonado… Ele caminha a frente dos seus! Ressuscitou de Verdade! O Cristo Rei, piedade!»

E eis que por Maria e as marias surge a hora da alegria!

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