O massacre ocorrido no Centro de Recuperação Regional de Altamira, no Pará, que teve 62 mortes, completou um mês essa semana, mas a situação no presídio continua tensa, com a entrada de policiais encapuzados no presídio na manhã desta quarta-feira (28).
Houve relatos de que um preso foi gravemente torturado um dia antes da entrada da polícia no presídio. Ele foi levado ao hospital, onde não aguentou e faleceu. Os familiares temem que os outros presos também estejam sendo torturados.
Os familiares relataram à coordenação nacional da Pastoral Carcerária que a justificativa para entrada dos policiais foi a tentativa de alguns presos de serrar uma grade.
No entanto, as famílias questionam se isso de fato aconteceu pois, segundo elas, houve inspeções após o massacre que deixaram o presídio sem qualquer tipo de material, muito menos um que pudesse ser usado para serrar uma grade, e os presos estão sendo vigiados constantemente.
O Ministério Público também foi impedido de visitar o complexo para verificar as condições do local e dos presos na quarta.
As famílias estão receosas que esse episódio possa ser usado para cancelar as visitas aos presos, e tem se mobilizado para denunciar o que está ocorrendo no presídio ao Ministério Público.
O massacre ocorrido em Altamira é o segundo maior da história do Brasil após o massacre do Carandiru, e não se pode reduzir um massacre desses simplesmente à guerra entre facções, como o poder público vem tentando fazer. O que aconteceu em Altamira, e continua a acontecer, é fruto da máquina de moer gente que é o sistema carcerário brasileiro, com suas péssimas condições, torturas físicas, psicológicas e violências, e também do contexto social da cidade.
Altamira é, segundo o Atlas da Violência, a segunda cidade mais violenta do país, com um índice de mais de 100 mortos a cada 100 mil habitantes. A cidade não era assim antes do início da construção da usina hidrelétrica de Belo Monte.