É cena comum que nos dias de visita, as portas dos presídios masculinos em diferentes partes do Brasil estejam com filas de parentes para visitar os presos. Esse cenário não é o mesmo nas cadeias femininas.
Em recente reportagem, o jornal “O São Gonçalo” constatou que no presídio feminino Talavera Bruce, no Complexo Penitenciário de Gericinó, em Bangu, das 367 presas, somente 13 recebem os parceiros para visitas íntimas, sendo cinco companheiros em liberdade e oito presos em outras unidades prisionais, conforme dados da Secretaria Estadual de Administração Penitenciária (Seap). Apenas cerca de 30% do total recebem visitas dos familiares em geral.
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“A mulher, muitas vezes, é a pilastra da família. Quando ela erra e acaba presa, alguns integrantes da família não aceitam essa nova realidade. O abandono, em alguns casos, é visto como castigo. Em alguns casos, os familiares acreditam que abandonar a mulher servirá para ela aprender com o erro”, explicou ao jornal a psicóloga Tânia Devillart.
Já segundo a socióloga Edna Del Pomo de Araújo, especialista em sistema carcerário e coordenadora do Núcleo de Estudos de Criminologia e Direitos Humanos da UFF, “nos presídios masculinos, as mulheres fazem fila, carregam compras, coisa que não acontece no feminino. Os homens, em alguns casos, têm vergonha e não querem passar pela humilhação da revista e tudo mais”.
Uma senhora de 64 anos, presa por porte de drogas, entrevistada pelo jornal, diz que prefere que os familiares não a visitem por conta da revista vexatória. “É muita humilhação entrar aqui. Prefiro que minha família não passe pelo constrangimento de ser revistado. Deixa eu sofrer sozinha”, afirmou.
Prisão para as mulheres que ‘saem do eixo’
Em junho, durante o seminário “Tortura e Encarceramento em Massa”, realizado pela Pastoral Carcerária, Soraia da Rosa Mendes, autora do livro “Criminologia Feminista” e membro do Cladem Brasil, enfatizou que a mulher que ingressa e permanece naquilo que é considerado e denominado criminalidade, anteriormente sofreu violências em casa e na sociedade.
Segundo Soraia, o processo de encarceramento feminino começa antes da prisão, por meio de um processo de custódia social, com um conjunto de ações para reprimir, vigiar e encerrar as mulheres nos espaços públicos e privados.
“Corrigir a mulher. Essa é a ideia para colocá-la na prisão. É para que entre no eixo de que ela se desviou”, afirmou, recordando que historicamente as mulheres sempre viveram em ambientes segregados e que com o tempo se construiu o estereótipo da mulher criminosa. “As mulheres são julgadas a partir de estereótipos morais. E isso está na cabeça de alguns juízes e defensores”, enfatizou, opinando que o direito penal deve se nortear pelas demandas das mulheres e não por estereótipos.