No dia 24 de agosto (2014), recebemos a notícia da páscoa do irmão Guido. O seu sepultamento: dia 29 em João Pessoa.
Irmão Guido, um padre francês, membro da Fraternidade dos irmãozinhos de Foucauld, deixou a sua pátria para dedicar a sua vida no Brasil por aproximadamente 50 anos.
Ouvi do próprio Guido as experiências de quando o mesmo trabalhou por vários anos em São Paulo como metalúrgico, entre vários outros serviços, sem ser identificado como padre, preferia sempre ser chamado de irmão Guido.
Conheci o irmão Guido e comecei trabalhar com ele a partir de 1996. Anos antes e posteriormente àquele tempo, até enquanto pode se mobilizar, dedicou a sua vida ao trabalho da Pastoral Carcerária. Morava no meio dos pobres no Alto do Céu, em Mandacaru, João Pessoa. Muitos dos seus vizinhos jovens iam para a prisão ou eram assassinados. Ele partilhava conosco.
Tinha dificuldade de escutar, por isso, colocava o ouvido o mais próximo das grades, para escutar a pessoa presa. Quando estava com dificuldades de ficar em pé, sentava para fazer a escuta, dimensão muito nobre da Pastoral Carcerária.
Os presos sempre pediam informações sobre os processos, por isso, ele tinha um caderno em que anotava com muito detalhe a situação dos presos que ele acompanhava e sempre levava a movimentação do processo para cada um.
Guido, na sua espiritualidade dos irmãozinhos, dedicou totalmente todos os últimos anos de sua vida ao mundo das prisões, escolhendo realmente o último lugar, aquele para o qual ninguém quer ir, o lugar do anonimato, do aniquilamento e do castigo para a pessoa encarcerada, onde a Paixão de Jesus continua acontecendo.
Chegou certo momento em que ele não mais participou dos encontros dizendo que não compreendia as discussões por causa da audição. Lembro certa vez que em uma discussão numa dessas reuniões, ele tirou o aparelho do ouvido como que a dizer: “Agora podem falar”. Ele não era o homem das palavras, mas da contemplação e do compromisso.
Nós, agentes da Pastoral Carcerária do Estado da Paraíba, que convivemos por muitos anos com você, agradecemos a Deus pelo seu testemunho e sua fidelidade nessa missão tão especial porque procede da constatação de Jesus que diz: “Eu estava preso e vocês foram me visitar” (Mateus, 25).
Irmão Guido, como tantas mulheres e homens pelo Brasil afora, entendeu essa afirmação de Jesus e fez dela um programa para a sua vida, até o momento em que não mais pode se locomover. A sua vida foi conduzida por duas preocupações: a oração e a visita à pessoa encarcerada.
Certamente irmão Guido ouviu estas palavras: Venha bendito de meu Pai para o Reino preparado para você desde a fundação do mundo em Mateus 25.
Na sua última viagem à França, o mesmo ficou brincando que o avião ia cair com ele. No retorno, ele tropeçou dentro do avião e sofreu um acidente, mas após um tempo conseguiu se refazer.
Irmão Guido, nossa gratidão a você que deixou sua terra, o aconchego de sua família, na França, para se inculturar entre nós. Não vamos esquecer o seu testemunho.
Padre Bosco Nascimento
Coordenador da Pastoral Carcerária no Estado da Paraíba
Presidente do Conselho Estadual de Direitos Humanos
E-mail: pebosco@gmail.com