Podemos pensar na Pastoral Carcerária, que é um serviço da Igreja na obediência ao mandato de Jesus Cristo ‘estava preso e foste me visitar’, como um sinal de Cristo ressuscitado na vida de quem está preso. É expressão do amor de Deus pelos encarcerados. É expressão de um amor que busca a inclusão dos mais necessitados e de todas as pessoas envolvidas com as questões carcerárias.
Todo o trabalho gira em torno de duas dimensões: a evangelização e a construção da cidadania.
Entendemos a evangelização como anúncio e prática de um amor que se origina em Jesus Cristo e atinge toda e qualquer pessoa. Trabalhamos e educamos rumo a uma liberdade de comunhão e solidariedade. Somos comprometidos com a conversão para o exercício de um amor despojado de posturas egoístas, individualistas, exploradoras e corruptas, a partir da meditação e da celebração do Novo Testamento. A construção do Reino de Deus deve se fazer presente na sociedade através de uma ética centrada nos valores: solidariedade, misericórdia, conversão, perdão, cura, não violência. Vamos testemunhando a justiça e o amor divinos nas formas do respeito e do compromisso de construir uma nova cidadania e nova sociedade, que tem seu fundamento na graça e misericórdia de Deus, em Cristo.
Exercemos este serviço buscando sempre o benefício dos presos e de seus familiares, dos funcionários e autoridades responsáveis pela organização e manutenção do sistema penitenciário, para propiciar a esperança, o diálogo e a reconciliação em nossa sociedade.
Vamos anunciando a proposta do Evangelho, e vai ficando visível o que ainda não foi iluminado pela lógica do amor de Deus e que precisa ser mudado. O anúncio do Evangelho denuncia aquilo que em nossa sociedade é alheio ao Reino de Deus. É uma busca permanente pelo Espírito de Deus que, estando em nossos corações, nos ensina a amar, respeitar e buscar a solidariedade para todos.
Procuramos ser, também, um canal de interlocução entre a população carcerária e familiares, por um lado, e o Estado e a sociedade, por outro.
Colocamo-nos no meio dos detentos como seus irmãos e irmãs, deixando-nos sensibilizar por sua situação quer individual ou comunitária.
Oferecemos-lhes nossa ajuda para poderem se abrir e descobrirem o mais profundo de si mesmos, com sua situação atual e sua história pregressa.
A vivência dos sacramentos é momento privilegiado na sua formação. Possibilitando-lhes esta partilha, chegamos a seus sofrimentos, conflitos e frustrações na sua vida individual, familiar, comunitária, social, política e religiosa, e os vamos conduzindo por caminhos em que o amor de Deus, em Cristo, vai curando o ser de cada um.
A Pastoral Carcerária quer que cada ser humano encontrado no sistema tenha a possibilidade de ser atingido pela ressurreição de Jesus e se torne um novo ser humano.
Cônego Manuel Manangão
Vigário Episcopal para a Caridade Social da Arquidiocese do Rio de Janeiro.