NÃO SE CALAM OS PROFETAS

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Nota de apoio aos agentes da Pastoral Carcerária da Paraíba, senhora Guiany Campos e padre Bosco Nascimento
 

“O Espírito do Senhor Javé está sobre mim, porque Javé me ungiu.

Ele me enviou para dar a boa notícia aos pobres,

Para curar os corações feridos, para proclamar a libertação dos escravos,

E pôr em liberdade os prisioneiros, para promulgar o ano da graça de Javé”.

(Is 61, 1-2)

“Felizes os que têm fome e sede de justiça,

porque serão saciados”. (Mt 5, 6)

 
logotipo_pastoralTodas as pessoas seguidoras de Jesus de Nazaré são convocadas a ser profetas. Por isso, não lhes é permitido se calar ou se omitir frente às violências e às estruturas injustas. Ao contrário, “cada cristão e cada comunidade são chamados a serem instrumentos de Deus ao serviço da libertação e promoção dos pobres”; “ninguém pode sentir-se exonerado da preocupação pelos pobres e pela justiça social”[1]. É inerente ao cristão a missão da profecia[2], denunciando tudo o que causa a morte e anunciando a certeza da chegada do Reino. A história do Povo de Deus é justamente marcada pela imperativa ruptura com toda e qualquer estrutura que ceifa a dignidade e a vida plena das pessoas (Ex 3, Is 10, Mt 21, Tg 5). O Papa Francisco, porém, faz um contundente alerta: “Quando no Povo de Deus não há profecia, o vazio que deixa é ocupado pelo clericalismo: é precisamente esse clericalismo que pergunta a Jesus: ‘Com que autoridade fazes tu estas coisas? Com que legalidade?’”[3].
Lamentavelmente, na contramão dos ventos que sopram do Vaticano, a Arquidiocese da Paraíba está testemunhando a perseguição à profecia, com a ascensão da arbitrariedade. A atitude de dom Aldo Pagotto, arcebispo da Paraíba, de afastar o padre João Bosco do Nascimento e a senhora Guiany Campos Coutinho de suas funções na coordenação da Pastoral Carcerária da referida Arquidiocese, é violenta e injustificada. Tal iniciativa representa uma oposição e um combate à ação pastoral e evangelizadora das pastorais sociais e das diretrizes do Documento de Aparecida (parágrafos 427-430).
Padre Bosco e a senhora Guiany têm uma longa, comprometida e profética atuação na Pastoral Carcerária e na defesa dos direitos humanos. Por que afastá-los da coordenação da Pastoral? Por que afastar agentes pastorais que são membros do Conselho Estadual de Direitos Humanos, do qual padre Bosco, atualmente, é o presidente, e do Comitê Estadual de Prevenção e Combate à Tortura? Por que afastar agentes pastorais que são membros da Pastoral Carcerária Estadual? Por que afastar agentes pastorais que, seguindo as diretrizes do CELAM, “estimulam processos de reconciliação dentro do recinto penitenciário”[4] e atuam na reivindicação, formulação e fiscalização de “políticas locais e nacionais no que se refere à segurança cidadã e à problemática penitenciária”[5]? O que está colocado é a opção ou o abandono de uma pastoral e de uma Igreja proféticas e missionárias.
A coordenação nacional da Pastoral Carcerária, consonante com inúmeras vozes do Estado da Paraíba, expressa solidariedade e apoio ao padre João Bosco do Nascimento e à senhora Guiany Campos Coutinho, ao mesmo tempo em que repudia a intervenção realizada por dom Aldo Pagotto, feita sem ouvi-los anteriormente, um lamentável julgamento sem direito de defesa. Ficamos na expectativa da resolução desse imbróglio, com a mais breve reinserção do padre Bosco e da senhora Guiany na coordenação da Pastoral Carcerária da Arquidiocese da Paraíba, e a consequente retomada das atividades regulares da pastoral.
Junto com o Papa Francisco e com todo o Povo de Deus, rezamos: “Senhor, não esquecemos a tua promessa! Que não nos cansemos de andar para frente! Que não te fechemos nas legalidades que fecham portas! Senhor, liberta o teu povo do espírito de clericalismo e ajuda-o com o espírito da profecia!”[6].
 
 

Brasil, 14 de março de 2014.

COORDENAÇÃO NACIONAL DA PASTORAL CARCERÁRIA

 
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[1] Papa Francisco, Evangelii Gaudium, 187 e 201.
[2] “Senhor, que não faltem profetas no teu povo! Todos nós batizados somos profetas” (Papa Francisco, 16 de dezembro de 2013, missa na Casa de Santa Marta).
[3] Missa na Casa Santa Marta, 16 de dezembro de 2013.
[4] CELAM, Documento de Aparecida, 430.
[5] Idem.
[6] Missa na Casa Santa Marta, 16 de dezembro de 2013.

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