É muito comum pessoas perguntarem à Pastoral Carcerária: porque vocês não trabalham com as vitimas da violência? Não sei se as mesmas, sem nenhum julgamento, estão realmente preocupadas com as vitimas ou querem apenas que outros se preocupem. A essas pessoas devemos também perguntar: você realmente acha importante trabalhar com as vitimas? O que você escolheria: A pastoral carcerária ou as vitimas? Certamente a resposta seria pela vitimas. Então, a essas pessoas devemos responder que façam a sua parte e organizem um serviço samaritano para apoiar as vitimas que a nossa sociedade produz. É bom não esquecer que a ação mais importante diante de Deus é a solidariedade com quem precisa e não a oração sem ação. Muitos estão rezando por ai, mas não pensam no outro e em suas necessidades.
A pastoral da igreja, no seu todo tem o papel de acompanhar e apoiar todas as vítimas da violência. Acontece que não se pode fazer tudo. Por isso, na igreja existem as diversas pastorais, cada uma com a sua especificidade e seu campo de atuação.
A questão é saber de qual vitima se está falando, pois, a pessoa presa que permanece na prisão ela é vitima também de outra violência.
Na sua grande maioria, as pessoas detidas são vitimas da falta de estudo, da falta de trabalho, da falta de moradia, de saúde. Vitimas da violência domestica e de policiais. Vitimas da justiça que os esquece, e vitimas da estrutura prisional marcada por todas as formas de violência física, moral e psicológica.
A prisão existe para ajudar o ser humano a superar suas deficiências e não mais voltar a causar danos à sociedade. A prisão é para transformar quem passa por ela. Hoje essa transformação é uma deformação. É impossível que uma pessoa saia melhor do que quando entrou na prisão. Para o resto da vida, que normalmente é muito curta, ser humano será um ser doente. As marcas perversas e negativas do tempo de cadeia jamais serão esquecidas. O medo de morrer está presente a cada momento com a falta de segurança, inimigos, rebeliões, disparos frequentes, mortes. As famílias carregam o mesmo medo. Vive-se, portanto, um clima de terror.
Só realmente conhece o sistema prisional é quem passa por ele: a pessoa presa e a família quando visita. Nada mais degradante. É comum ouvir de familiares: “meu filho é culpado, mas ele não merece o que ele está passando”. Realmente não merece, pois a prisão não é para isso. Aliás, ela não serve, a não ser para fazer aumentar a violência e as mazelas para a nossa sociedade. Ela representa o que de mais atrasado existe na sociedade que se diz moderna e avançada. Ela mantem a escravidão e a degradação da vida humana. Ela é detestável a Deus e ao Reino. Ela é ofensa a Deus. Ela é a vitimização das vitimas de todas as mazelas.
Assim, não digam que não trabalhamos com as vitimas. É que elas são tantas que não temos como atendê-las. Foram vitimas e continuam sendo. Trabalhamos com seres humanos que a sociedade os tem como bandidos só porque lhes falta o colarinho branco. Os de colarinho branco, muitos deles agem em bando, formando quadrilhas que desviam, com classe, o nosso dinheiro e continuam sendo votados para continuarem colocando a mão no nosso bolso.
Pe. Bosco Nascimento