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Espiritualidade

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A VI Conferência Episcopal latino-americana e Caribenha, em Santo Domingo, República Dominicana, em novembro de 2008, confirmada pelo Documento de Aparecida, apresentou os elementos básicos de Espiritualidades da pastoral carcerária como:
1) Espiritualidade trinitária. “Uma autêntica proposta de encontro com Jesus Cristo deve se estabelecer sobre o sólido fundamento da Trindade-Amor. A experiência de um Deus uno e trino, que é unidade e comunhão inseparável, permite-nos superar o egoísmo para nos encontrar plenamente no serviço para com o outro.” (DA.240).
2) Espiritualidade de comunhão, de inclusão e de diálogo. “A Igreja é comunhão no amor. Esta é sua essência através da qual é chamada a ser reconhecida como seguidora de Cristo e servidora da humanidade. O novo mandamento é o que une os discípulos entre si, reconhecendo-se como irmãos e irmãs, obedientes ao mesmo Mestre, membros unidos à mesma Cabeça e, por isso, chamados a cuidarem uns dos outros (1 Cor 13; Cl 3,12-14).” (DA.161).
3) Espiritualidade de Encarnação: de presença, de escuta e de acompanhamento. “Na história do amor trinitário, Jesus de Nazaré, homem como nós e Deus conosco, morto e ressuscitado, nos é dado como Caminho, Verdade e Vida. No encontro de fé com o inaudito realismo de sua Encarnação, podemos ouvir, ver com nossos olhos, contemplar e tocar com nossas mãos a Palavra de vida (cf. 1 Jo 1,1), experimentamos que “o próprio Deus vai atrás da ovelha perdida, a humanidade doente e extraviada. Quando em suas parábolas Jesus fala do pastor que vai atrás da ovelha desgarrada, da mulher que procura a dracma, do pai que sai ao encontro de seu filho pródigo e o abraça, não se trata só de meras palavras, mas da explicação de seu próprio ser e agir”. Esta prova definitiva de amor tem o caráter de um esvaziamento radical (kênosis), porque Cristo “se humilhou a si mesmo fazendo-se obediente até a morte e morte de cruz”. (Fl 2,8) (DA. 142).
4) Espiritualidade de encontro com a pessoa de Jesus Cristo. “O acontecimento de Cristo é, portanto, o início desse sujeito novo que surge na história e a quem chamamos discípulo: “Não se começa a ser cristão por uma decisão ética ou uma grande idéia, mas através do encontro com um acontecimento, com uma Pessoa, que dá um novo horizonte à vida e, com isso, uma orientação decisiva”. Isto é justamente o que, com apresentações diferentes, todos os evangelhos nos tem conservado como sendo o início do cristianismo: um encontro de fé com a pessoa de Jesus (cf. Jo 1,35-39)”. (DA 243).
a) Em comunidade:Jesus está presente em meio a uma comunidade viva na fé e no amor fraterno. Ali Ele cumpre sua promessa: “Onde estão dois ou três reunidos em meu nome, ali estou eu no meio deles” (Mt 18,20). Ele está em todos os discípulos que procuram fazer sua a existência de Jesus, e viver sua própria vida escondida na vida de Cristo (cf. Cl 3,3).” DA 256
b) Com a Palavra. “Encontramos Jesus na Sagrada Escritura, lida na Igreja. A Sagrada Escritura, “Palavra de Deus escrita por inspiração do Espírito Santo é, com a Tradição, fonte de vida para a Igreja e alma de sua ação evangelizadora.Desconhecer a Escritura é desconhecer Jesus Cristo e renunciar a anunciá-lo.”DA 247 ”
c) Com a Eucaristia. “A Eucaristia é o lugar privilegiado do encontro do discípulo com Jesus Cristo. Com este Sacramento, Jesus nos atrai para si e nos faz entrar em seu dinamismo em relação a Deus e ao próximo. Há um estreito vínculo entre as três dimensões da vocação cristã: crer, celebrar e viver o mistério de Jesus Cristo, de tal modo, que a existência cristã adquira verdadeiramente uma forma eucarística. Em cada Eucaristia, os cristãos celebram e assumem o mistério pascal, participando n’Ele. Portanto, os fiéis devem viver sua fé na centralidade do mistério pascal de Cristo através da Eucaristia, de maneira que toda sua vida seja cada vez mais vida eucarística. A Eucaristia, fonte inesgotável da vocação cristã é, ao mesmo tempo, fonte inextinguível do impulso missionário. Ali, o Espírito Santo fortalece a identidade do discípulo e desperta nele a decidida vontade de anunciar com audácia aos demais o que tem escutado e vivido.”(DA. 251).
5) Espiritualidade profética, que descobre os rostos sofridos de Jesus Cristo, anuncia e denuncia em defesa da vida. “No rosto de Jesus Cristo, morto e ressuscitado, maltratado por nossos pecados e glorificado pelo Pai, nesse rosto doente e glorioso, com o olhar da fé podemos ver o rosto humilhado de tantos homens e mulheres de nossos povos e, ao mesmo tempo, sua vocação à liberdade dos filhos de Deus, à plena realização de sua dignidade pessoal e à fraternidade entre todos. A Igreja está a serviço de todos os seres humanos, filhos e filhas de Deus.
A Espiritualidade profética e libertadora leva em conta a pessoa toda, não havendo dicotomia entre espírito e matéria, coisas espirituais e coisas materiais. A consequência disto é que o cristão torna-se aberto ao outro. É sensível e solidário diante das injustiças, da dor, do sofrimento, da miséria e da fome.
A pessoa autenticamente espiritual não é aquela que tem experiências espirituais extraordinárias, mas sim aquela que vive profundamente o amor ao próximo e o respeito ao próximo. Ser cristão é viver o amor pelo outro, no diálogo e no respeito, aberto ao futuro (utopia).
6) Espiritualidade do Discipulado, à Imitação de Maria. “A máxima realização da existência cristã como um viver trinitário de “filhos no Filho” nos é dada na Virgem Maria que, através de sua fé (cf. Lc 1,46-50) e obediência à vontade de Deus (cf. Lc 1,38), assim como por sua constante meditação da Palavra e das ações de Jesus (cf. Lc 2,19.51), é a discípula mais perfeita do Senhor. Interlocutora do Pai em seu projeto de enviar seu Verbo ao mundo para a salvação humana, com sua fé, Maria chega a ser o primeiro membro da comunidade dos crentes em Cristo, e também se faz colaboradora no renascimento espiritual dos discípulos. Sua figura de mulher livre e forte, emerge do Evangelho conscientemente orientada para o verdadeiro seguimento de Cristo. Ela viveu completamente toda a peregrinação da fé como mãe de Cristo e, depois, dos discípulos, sem que fosse livrada da incompreensão e da busca constante do projeto do Pai. Alcançou, dessa forma, o fato de estar ao pé da cruz em uma comunhão profunda, para entrar plenamente no mistério da Aliança.” (DA 266 – 6.1.4).
A espiritualidade do agente de pastoral carcerária parte de Deus Uno e Trino, que é comunicação e amor, unidade na diversidade. Escuta o clamor do seu povo e, com seu coração misericordioso, envia o seu próprio Filho, que se encarna e faz a sua morada entre nós. Assume a nossa condição humana, menos o pecado, para redimir nossa fragilidade humana, para nos dar vida, e vida em abundância.
Sentindo-nos profundamente amados. Desde o encontro pessoal com Jesus Cristo e com a comunidade, a Palavra e a Eucaristia, somos chamados a anunciar o Evangelho da misericórdia e da esperança àqueles a quem Jesus ama com um amor predileto por serem os mais vulneráveis; ele se identifica com eles: “estive no cárcere… e vieste visitar-me” (Mateus 25, 11-36).
Animados pelo Espírito Santo e conscientes de nosso próprio pecado, saímos ao encontro dos irmãos que sofrem para, com eles, criarmos experiência de encontro e de comunicação. Na dinâmica do caminho de Emaús, o Mestre nos ensina a pedagogia do acompanhamento: fazer-nos presentes, caminhar juntos e iluminar a vida através da sua Palavra, que liberta, compartilhando o pão que alimenta e dá a vida eterna.
Reconhecer o rosto sofrido de Jesus nos irmãos. “Contemplar os rostos daqueles que sofrem…; sentimos as dores, enfim, da situação desumana em que vive a grande maioria dos presos, que também necessitam de nossa presença solidária e de nossa ajuda fraterna… Os excluídos não são somente “explorados”, mas “supérfluos” e “descartáveis”. (DA .65) Ser irmão que ama e abençoa, cura as feridas, acalma a sede e orienta; que converte a tristeza em alegria, agindo como o Bom Samaritano.
Como Jesus, defendemos a vida, anunciamos e denunciamos desde a dimensão profética de nosso batismo. Corremos o risco de defender os direitos dos excluídos com audácia e valentia.
Em espírito de comunhão, nos abrimos ao diálogo com outros credos cristãos como expressão do amor incondicional de Deus.

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