Operações da PM na Cracolândia agridem moradores da região e dependentes químicos

 Em Combate e Prevenção à Tortura

Da Ponte Jornalismo
“Era perto de 6h, quando ouvi tiros, bombas, gritaria. A polícia entrou com tudo. Foi um pavor! Eu só fico me perguntando para onde vai esse povo todo? Será que não percebem que são doentes? Eu não tenho o que comer hoje. Ninguém comprou leite, pão, nada. Tá tudo fechado”. Foi assim que a chilena Verônica Vega, que trabalha em um hotel na rua Barão de Piracicaba definiu a operação realizada pelo governo do Estado, em parceria com a prefeitura de São Paulo, no domingo (21/05).
Mais de 500 homens da Polícia Civil, coordenados pelo GOE (Grupo de Operações Especiais), além de centenas de policiais militares com ampla ação do Choque e apoio da Guarda Civil Metropolitana trabalharam na ação que tinha como objetivo acabar com o chamado “fluxo”, localizado na rua Dino Bueno, onde o tráfico e uso de drogas acontece a qualquer hora do dia e da noite.

Segundo o delegado José Flaminio Ramos Martins, a operação é resultado de um trabalho de 8 meses de investigação. “Prendemos o líder do tráfico aqui da cracolândia, que é do PCC e que estava em Caraguatatuba. Foram expedidos 69 mandados de prisão”, explicou afirmando que acredita que agora o “fluxo” tem chances de acabar. Na região da cracolândia 28 pessoas foram presas, além de outras 10 em outras cidades do Estado.
Questionado sobre a data da operação, que coincidiu com a Virada Cultural, que traz shows e espectáculos diversos gratuitos para o paulistano e é organizada pela prefeitura, Flaminio negou qualquer intenção de atrapalhar o evento.
“A gente age no momento oportuno. Infelizmente, acabou calhando de ser na mesma data”, afirmou. “Tudo que aconteceu aqui nessa manhã foi dentro da legalidade, com anuência do Ministério Público e Justiça, que expediu os mandados”.
Pouco mais cedo, o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), comemorou a ação e disse que a cracolândia acabou. Mas não é o que moradores acreditam. Marisa vive em um prédio na avenida Rio Branco e disse disse ter “certeza” de que, quando a polícia deixar o local, tudo voltará a ser como antes. “A gente já viu esse filme. Tá vendo esse pessoal aqui no posto? Vão voltar”, disse, fazendo referência a um grupo de mais de 100 dependentes que estavam no posto de gasolina da rua Helvétia com a Rio Branco.
A prefeitura de SP anunciou que fará um grande trabalho de reorganização da região e dará atendimento ao usuário que desejar recebê-lo. No local onde antes funcionava o programa “De Braços Abertos”, da gestão Fernando Haddad (PT), foi montado um “QG emergencial” para atender quem quiser receber ajuda. O governo disponibilizou mais de 3 mil vagas para internação voluntária além das mais de 400 vagas em albergues.
Ativistas ligados ao grupo “Craco Resiste” criticaram a ação da polícia, que impediu, por exemplo, que usuários pegassem seus documentos no fluxo, apesar de um acordo prévio feito junto ao vereador Eduardo Suplicy (PT), que acompanhava a ação. Além disso, os ativistas disseram que a polícia atirou e jogou bombas dentro do fluxo sem antes negociar.
Um dos usuários, que não quis de identificar, mostrou a marca de bala de borracha nas costas. “Foi o maior desespero. Não tinha pra onde correr”, disse.
Manifestação
Acompanhados de ativistas dos Direitos Humanos, moradores e comerciantes da Cracolândia realizaram um protesto na quarta-feira (24/5) contra as ações da Prefeitura de São Paulo e do governo do Estado na região.
Alckmin e Doria estavam na Cracolândia na manhã desta quarta quando a manifestação ocorreu. Os dois tiveram de deixar a área às pressas e sob os gritos de “fascistas”. Eles foram anunciar a construção de novos empreendimentos imobiliários naquela região.
Na sede da GCM, uma comissão de moradores foi recebida pelo Comando-Geral da corporação. A principal reivindicação dos manifestantes é que as forças de segurança têm invadido residências e comércios e também têm agido com violência contra os dependentes químicos durante abordagens.

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