Governo do Estado e Justiça têm culpa no massacre de Manaus, diz representante da PCr

 Em Combate e Prevenção à Tortura

Desde que a rebelião no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj) foi deflagrada, em 1º de janeiro, culminando na morte de 56 presos, a integrante da Pastoral Carcerária da Arquidiocese de Manaus, Maria Marques, tem prestado solidariedade aos familiares dos presos e cobrado posicionamentos das autoridades a respeito da situação.
No dia 4, ela foi entrevistada pela rádio Jovem Pan e contou detalhes do que já viu nas visitas ao Compaj junto a outros agentes da Pastoral Carcerária local.
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Superlotação e descaso
“Antes dessa tragédia, o sistema já era um caos e é ainda, continua, mas teve pontos críticos que acontecerão antes de chegar a essa barbárie, um deles a superlotação: para se ter ideia, o sistema tinha capacidade para 450 homens e estava com 1.250 aproximadamente. A situação é péssima, o presídio é terceirizado, está abandonado pelo poder público – os gestores e o judiciário – hoje não sei lhe dizer quantos deles [presos] que morreram e já deveriam estar em suas casas se o Estado cumprisse com a sua responsabilidade”.
A rivalidade entre facções gerou o caos?
“Eu discordo completamente do que o Estado e as autoridades estão falando. Eles estão botando a responsabilidade de tudo isso nos próprios internos, mas eles são vítimas e agora vão acabar sendo responsabilizados por toda essa situação, sendo que os verdadeiros culpados são os gestores, a justiça. Eles deveriam se responsabilizar por tudo isso. Nas nossas idas ao sistema prisional, nós nunca constatamos nenhuma desavença entre eles. A equipe que visita lá nunca notou nada. O que notamos foram várias coisas irregulares e tentamos agendar uma audiência com o secretário que é responsável pelo sistema prisional [Sérgio Fontes, secretário estadual de Segurança Pública], mas ele não nos recebeu. Outras pessoas e familiares também falaram, mas eles nunca levaram a sério. O poder do estado e o judiciário nunca levou a sério. Eu sei que o sistema prisional em todo o Brasil é um caos, mas no Amazonas é o pior dos piores devido à administração que é péssima e que ainda passa a administração para terceiros, para a terceirizada, a empresa Umanizzare”.
Mas existe conflitos entre facções nas prisões?
“Todos nós sabemos que existem as facções, mas não podemos dizer que facção tal faz isso ou aquilo, porque em nosso trabalho pastoral no cárcere nunca foi pensado dessa maneira. Sabemos que existem as facções, mas não vimos brigas. Existia divisões, mas cada um com sua parte. Não dá para dizer que facção tal ameaçava outra. Nós sabíamos que esses presos que morreram eram perseguidos e abandonados por todos, no chamado pavilhão do isolamento”.
Motivação principal da tragédia
“Eu não posso dizer qual era o planejamento deles [autoridades], mas para se ter ideia, às vezes no Compaj até água faltava. Então, é um descaso mesmo com a administração, o judiciário que não fazia o seu papel, isso veio se somando de anos, e chegou a um ponto que explodiu”.
As famílias dos presos mortos têm recebido assistência?
“A Pastoral está se dividindo em equipes, está ao lado das famílias, mas infelizmente não podemos fazer nada. Estamos apenas ao lado delas, sofrendo com elas. Sábado, dia 7, vamos celebrar a missa de 7º Dia, vamos ter o primeiro encontro com elas para depois vermos como agir junto com a Defensoria Pública, que é nossa parceira, para poder estar acompanhando e analisar e planejar como vamos contribuir com essas famílias e fazer cobrança a quem é de direito”.

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